Agarrou-se as mãos da mãe e pressentido o que ia acontecer, gritou: mãe, não faças isso, não faças isso por favor, e o seu grito tinha a força do fim do mundo, tinha a força de mil sóis em combustão e ele gritava ainda: por favor, não faças isso, pareciam ser estas as únicas palavras que conhecia.
Lá ao fundo, noutras cidades, outras mães e outros filhos ouviam estes gritos e ouviam também o som das bombas a cair e antes destas atingirem o solo e rebentarem, abraçavam-se, abraçavam-se muito e com muita força.
A mãe sabia o que acontecia a quem sobrevivia ao impacto destas bombas, tinha visto fotografias, conhecia estórias, rumores que eram certamente estilhaços da detonação. A criança ainda implorava, chorando. A mãe chorava também e as lágrimas de ambos caiam no rio ou na terra. Segurou-o com força. Apertou-lhe o pescoço e mergulhou a cabeça da criança na água. O corpo miúdo tremia, as mãos lutavam, a vida esperança e vontade. A certa altura a mãe arrependeu-se, puxou-o à tona, abraçou-se chorou e sussurrou: filho. O coração daquele pequeno corpo já estava morto. Talvez o corpo também o estivesse.
As bombas continuaram a cair, cidade após cidade, dia após dia. As lágrimas também.