Site dos romances clássicos do universo Dune“There’s always a prevailing mystique in any civilization,” Leto said. “It builds itself as a barrier against change, and that always leaves future generations unprepared for the universe’s treachery. All mystiques are the same in building these barriers – the religious mystique, the hero-leader mystique, the messiah mystique, the mystique of science/technology, and the mystique of nature itself.”
De certa forma
Children of Dune é um
remake de
Dune. Temos o jovem que inicia uma viagem de descoberta e realização, temos as intrigas dentro de intrigas dentro de intrigas, temos até o regresso dum velho inimigo. No fim da trilogia nota-se que Herbert não quis ou não conseguiu dar cabal resposta a muitas das questões levantadas ao longo dos dois anteriores romances. Permanece um mistério o papel desempenhado pelo Conde Fenring e a esposa. Um dos pontos importantes de
Dune Messiah, a captura e transporte dum verme para Salusa Secundus é quase por completo escamoteado neste livro, sendo que apenas em quase nota de rodapé sabemos que os vermes morrem fora de Arrakis. E até a trama para matar os filhos gémeos de Paul Atreides é tão barroca e elaborada mas tão facilmente ultrapassada por eles que não pude deixar de pensar no final da cena: “então, foi só isto?”
Perante estas pontas soltas fiquei com uma sensação de anti-clímax que me deixou um gosto amargo na boca. Acho que ninguém enfrenta uma trilogia de 800 e tal páginas para no final tudo se resolver quase a papel químico do clímax e dénouement do primeiro romance. Senti-me traído nas minhas expectativas. Por isso não tenho problemas em afirmar que este é livro mais fraco da trilogia e que, mais uma vez, se demonstra que
Dune foi uma obra impossível de ultrapassar pelo seu criador. Aliás muitos dos outros romances de Herbert estão muito aquém da sua
opus magnum.
Onde
Dune Messiah era uma obra contida em si e suficientemente esparsa para se concentrar ao máximo na intriga,
Children of Dune arrasta-se por intermináveis sequências que pouco ou nada avançam na história e nos conflitos entre uma Alia regente enlouquecida pelas vozes interiores e os filhos de Paul decididos a proporcionarem uma via de salvação da humanidade, mesmo que para tal percam a sua própria humanidade. Muitas das secções que tratam de Leto II caem no absurdismo duma pseudo-filosofia de pacotilha que raras vezes alcança a profundidade que o seu uso tivera no primeiro romance. Alia surge como uma fanática perdida em complexos jogos de poder entre religião e Estado, muito longe do que se esperava após a conclusão do anterior romance e Jessica é uma pálida imagem da mulher forte que nos acompanhou ao longo do primeiro romance. Até a personagem do Pregador acaba por ser uma caricatura inverosímil e cómica do antigo Imperador.
O romance perde-se em intermináveis questões que são levantadas para logo serem descartadas ou puramente esquecidas. Mesmo a ideia de que Herbert poderia estar a guardar-se para uma segunda trilogia não serve em absoluto visto que cada romance deve, em si mesmo, ser uma unidade contida e que não gore as expectativas do leitor. Assim fiquei consternado em ver que todas as horas que dediquei à releitura da trilogia apenas adensaram a ideia inicial que formara há muitos anos atrás aquando da primeira leitura. A ideia de que me serviram um interminável hors-de-ouevre e se esqueceram de me dizer que entretanto o cozinheiro tinha ido de férias e não haveria jantar.
A evitar a todo o custo excepto pelos mais completistas.