Os velhos são farrapos de memória que levados pelo vento, rodopiam e se redemoinham até ficarem presos nos cantos dos bancos de jardim ou nas peças de dominó que se joga belga.
Confundem-se com as folhas secas que quando se acumulam debaixo dos pés fazem o som característico do Outono.
Eu passo no jardim, o meu ritmo apressado contraria o cair da tarde que se quer lânguida e sonolenta. Caminho mas nada disto observo. Nem os velhos nem as árvores. Todos eles plantados e vergados ao vento que se faz sentir e me empurra no meu movimento perpétuo.
Ao longe crianças esquálidas rivalizam com os patos em mergulhos pouco profundos nas águas sujas do lago. Os guinchos e os grasnados confundem-se. Banda sonora dos meus pensamentos que me absorvem por completo.
Há uma decisão apunhalada no meu rosto e a natureza, para mim, está morta.
Lisboa 21 de Abril de 2010