Mundos paralelos.
Há na vida de cada um três mundos distintos. Aquele em que se age, o onde se pensa e o em que se sonha. Felizes os que pensam e agem em conformidade. Ou felizes os que agem e nunca chegam a pensar e que mesmo quando a vida lhes devolve o fruto da sua acção impensada culpam as divindades, o destino ou o sistema.
E quantas vezes os mundos se chocam? Pensamos de determinada maneira e agimos de outra. Principalmente quando pensamos com as entranhas. Por vezes as nossas entranhas pensam melhor do que nós, porque têm em atenção as necessidades do corpo, desvalorizam a moral vigente e o politicamente correcto. Como nos sonhos. Os sonhos são as nossas entranhas a pensar em roda livre.
Um louco é um homem que sonha em permanência. Talvez os loucos quando dormem tenham sonhos racionais.
Pode-se viver no mundo dos pensamentos, mas para se sobreviver é preciso viver também no mundo das acções. Pensamentos profundos, sem acção, não alimentam ninguém. Mas mesmo quem consegue conciliar o mundo das acções e dos pensamentos continua a sonhar todas as noites. O que só demonstra como o mundo dos sonhos é necessário mesmo para quem julga que é completo nos outros dois.
Para mim, que penso muito com as entranhas e lhes permito, não raras vezes, que comandem as minhas acções, o mundo dos sonhos é, por vezes, o mais verdadeiro dos mundos. Ou assim o julgo porque raramente me lembro do que sonhei. Apenas as minhas entranhas acordam felizes.