Oféui é uma cidade sitiada. De muralhas tenuemente erguidas, de aspecto frágil, onde o vento rodopia e semeia estragos.
Quem veja a cidade de cima pode nem se aperceber da terrível situação em que se encontra Oféui, pois as pessoas caminham pelas ruas, o comércio funciona e não se vislumbra falta de trabalho. Mas um olhar mais atento, que mergulhe nas entranhas da cidade, consegue ver nos rostos apáticos dos seus habitantes que algo lhes foi roubado. Os sorrisos com que se cumprimentam tem o calor de um icebergue e o acumular de roupa nos seus corpos esquálidos mostra como o frio penetrou até ao seu âmago. Nas ruas pejadas de gente, deambulam os corpos porque a inércia é uma lei da física que perdura para além do sinal do fim dos tempos.
Em vão o exército sitiante estende uma passadeira vermelha numa álea larga para que os habitantes de Oféui possam sair e procurar outras paragens onde talvez pudessem viver felicidades de plástico e alegrias efémeras regadas com álcool profuso ou cogumelos exóticos.
Oféui é uma cidade sitiada porque não tem saída ainda que lhe estendam uma saída. É que Oféui é uma cidade de sentido único e esse, malogradamente, foi-lhe vedado.
Dito isto o passageiro do vento resolveu que não ia vaguear mais. Escutou o eco do vento longínquo, entrou na biblioteca e fechou a porta.