Matar a saudade faz avivar a ausência ou lamechas como o amor deve ser
Olá, dizes-me, e os teus olhos doces debruçam-se sobre mim na carícia de um beijo. Aperto-te com força, o teu calor no meu num abraço silencioso como quando, deitado numa folha de papel, tento recuperar a respiração enquanto te sinto a tremer baixinho.
Digo o teu nome e tu repetes o meu três vezes enquanto te puxo, uma vez mais, contra mim e te abraço enquanto os meus dedos, saudosos, percorrem o teu cabelo num gesto que é só meu e que não permites a mais ninguém. As estrelas cadentes que não viste na praia bailam-me nos olhos, humedecidos, por te poder tocar e olhar-te nos olhos mais uma vez.
A minha mão procura a tua e os dedos entrelaçam-se enquanto as respirações se sincronizam. Não há trovões nem relâmpagos, apenas o carinho e a ânsia não satisfeita e a promessa de um amanhã.
Beijo-te a boca e fujo do carro, o peito ainda feliz do teu contacto, mas as mãos, já desoladoramente vazias, enfiam-se nos bolsos em busca de um calor perdido, de algo que as ampare, para que entre os dedos não nasçam vazios de ar e a saudade, mal matada, já tão ressuscitada não escureça os olhos que ainda guardam o carinho do teu olhar.
Tiro o telemóvel do bolso e beijo-o, estupidamente, como tábua de salvação da distância que nos aparta e eco da tua voz nos meus ouvidos.
Respiro fundo, anestesio-me, é só mais um dia numa quinzena de domingos.