Já fizemos tanto e tão pouco, que há-de ser de nós*
Já navegámos por tantos mares, aportámos em cidades fantásticas erigidas em locais inauditos. Percorremos rios de palavras e os sulcos da tua pele. Por vezes quase naufragámos e outras repousamos no mar cálido e sereno da paz dos dias.
Às vezes penso em toda esta odisseia, nos cabos que ultrapassámos, de tormentas a boas esperanças em mares largos e caudalosos. Outras vezes, parece que nunca saímos de um pequeno lago escuro desenhado num bloco A4, onde nos banhámos e nos fundimos num corpo unido e em palavras soltas.
Que caminhos percorremos. Que imagens guardo na memória da espuma dos dias. O vaivém das ondas, maré alta, maré baixa. A profundidade do teu olhar que me promete outros mares, novos destinos, um porto de abrigo. O meu mundo interior, enriquecido, guarda a memória dos dias.
Mas hoje a chuva cai sem destino marcado.
O diário de bordo que carrego comigo está cheio de momentos felizes. Das palavras que compõem a estrada e de promessas por cumprir. Quantas ilhas por descobrir. Que cidades por conhecer, que caminhos por desbravar.
Lá em cima, uma gaivota plana num miado solitário. Como ela abro as asas ao vento e sem pensar mais deixo-me levar. A mãe natureza sabe o que faz, as trovoadas não bailam no céu só porque sim, o que tem de ser tem muita força.
Eu sei. Tu sabes. Quem sabe...
* frase roubada a uma canção do Sérgio Godinho e do Ivan Lins.