Há dias assim. Em que o corpo se rasga num desespero infinito e me sinto impotente para o quebrar. O corpo inquieto e os olhos vagueiam perdidos. As mãos abrem-se e fecham-se com dedos a mais, a sobrarem e sem terem que fazer, como fazer, o que fazer. A razão pede calma, balbucia argumentos sólidos que num outro dia poderiam ser convincentes, mas hoje não.
Hoje não.
O olhar queda-se vazio, humedece-se e levanto-me e sento-me e espreito à janela, para a frente, mas principalmente para baixo que o abismo sempre me seduziu e de novo para longe, para a Meca de um dia distante.
Merda.
Sei que amanhã será o primeiro dia do resto da minha vida mas as palavras estafadas desta velha canção já não me seduzem. Sento-me e escrevo estas palavras atiradas com a força de um vómito contra as teclas peganhentas deste computador. Mas nada disto me ajuda. Nem sequer faz passar o tempo porque o tempo, inacreditavelmente, imobilizou-se para fazer perdurar a tortura.
Hoje o tempo não anda.
Sinto todas as palavras gastas e os gestos estão aprisionados.
Impotente.
Enjaulado.
Farto de mim e da minha mania de fazer as coisas à minha maneira.
Foda-se!