O Meu Mundo
Não encontro palavras para dizer aquilo que sinto. Apenas me restam estas lágrimas amargas e estes sorrisos discretos e repentinos. Vivo num mundo no qual nunca devia ter estado, simplesmente porque sei, sinto, sou diferente e apesar de sermos todos nós diferentes, essa é uma diferença marcante, que não passa despercebida e que por isso me atraiçoa constantemente.
Os dias passam, uns a seguir aos outros, lentamente, mas continuo aqui sentada a escrever estes rabiscos saídos de uma qualquer parte de mim. Se ao menos soubesse escrever, juntar umas palavras bonitas e sorridentes. Não…nunca hei-de saber escrever mais do que umas linhas de rabiscos compostas por palavras monótonas e tristes. E no fim estes pontos, se é que tal nome lhes posso dar, já que na realidade tratam-se apenas de borrões de tinta que finalizam estes desabafos, pondo um fim a esta dor que me consome aos poucos, continuamente. Dor essa que irá regressar novamente, vezes sem conta, e levar-me a escrever estas palavras amarguradas, novamente, tal como uma roda, em que não há princípio nem fim, tudo se dá segundo uma ordem determinada.
Os dias passam e os movimentos vão-se tornando cada vez mais mecânicos. Como se o tempo contribuísse para esta minha conformidade, esta minha certeza de que nada virá que me devolva todo o entusiasmo inocente que tinha pelo mundo em que vivo. Até a própria natureza parece concordar comigo, perdendo todos os dias um pouco da sua força e energia.
Hoje estou triste, não por mim mas pelo nevoeiro, cuja brancura húmida e fresca deu lugar a um manto negro e espesso, quase sufocante e pelas florestas lentamente foram morrendo até não sobrar nada mais do que uns troncos carbonizados e uma terra coberta de cinzas espessas e negras. Hoje não me imagino noutro local nem noutra realidade, apenas regresso ao passado, às memórias da minha infância, em que o negro era verde e castanho. Não, não era uma verde qualquer, nem um castanho qualquer, era um verde cintilante, quase fresco e um castanho ligeiramente brilhante e húmido. Como me deleitava, deitada em cima dos ramos das árvores com um livro na mão, umas vezes a ler, calmamente, outras somente a observar a paisagem. O tempo passou, eu mudei, o mundo à minha volta mudou, desses anos passados nada mais me resta do que estas memórias felizes que ainda conseguem arrancar-me um breve e suave sorriso.