Tentei a minha sorte just for fun!
(NOTA: isto é a continuação do conto que submeti para a Antologia "Eletrcopunk" da SdE)
Enquanto a Adosinda limpa o seu revólver, o Carlos verifica as coordenadas e o Afonso averigua as máscaras de gás, sentei-me a ler um livro. Dentro de cinco minutos estaríamos na Alemanha e o zepelim tinha ordens para deixar cair duas bombas de hidrogénio: uma em Berlim na estação de comboios e outra em Frankfurt.
Adosinda olhou-me de soslaio; “Sabes o que é que Vollüspa significa?” Arrumou a arma dentro do casacão. O Afonso tinha acabado de alinhar a última máscara.
“Porque é que não nos iluminas?”
“Porque é que não te atiramos com as bombas?” Fechei o livro. “A Vollüspa foi o primeiro poema edda que conta a história do início e fim do mundo.”
“Tanta sabedoria, patroa!”
“Vai-te foder, Afonso, ou queres que te mande um testo nessa tromba?”
“Se for um testo com amor.”
O Carlos levantou-se para pegar no meu livro, tinha-o marcado com o meu pente no conto “Génesis- Apocalipse.”
O Afonso dava corda aos mini-robots. Estas miniaturas desengonçadas, criadas pelo cientista Holstein estariam prontas a explodir mal chegassem ao solo.
- Achas que ainda chegamos antes da telenovela? – O Afonso entregou a máscara à Adosinda.
- No episódio de hoje assistimos à queda da Alemanha. – Colocou a máscara que lhe tapava a cara por completo.
A primeira bomba seria lançada ao som de “Das Rheingold” que disseminava pelas ruas de Berlim. O céu ficou machado de vermelho. Os altifalantes pararam. Da janela vi uma criança a tossir agarrada a um Knip de peluche. Esta guerra era uma questão de sorte ou de lugar? Senti as lágrimas a caírem e um toque no ombro.
- Vamos, Aurélia. Estão todos mortos... nós ainda temos a eternidade.
Peguei no livro e o pente caiu. Calhou exactamente na página 81 onde li: “Não há nada que possa fazer?”